Arte Não-liminar e Estado Alterado
"Por "espetacular" é necessário compreender um modo de ser, de se comportar, de se mover, de falar, de cantar e de se adornar que contrasta com as atividades banais da vida cotidiana ou que as enriquece e lhes dá sentido" (VELOSO, Graça, Pedagogias, cenas singulares, pluriepistemologias. p.54)
Essa é uma noção liminar de espetacularidade. Eu me interesso pelas artes não-liminares (termo que talvez eu esteja cunhando) isto é, artes que invadem a vida cotidiana a ponto de não haver mais diferença entre o modo de ser dentro ou fora da liminaridade. Um guerreiro é um guerreiro sempre (como Musashi tomando chá como um rude guerreiro), mesmo quando não está lutando. Para mim, ser um ator, dançarino, malabarista, artista ou músico (ou tudo ao mesmo tempo) é um modo de vida, é uma corporalidade que invade as atividades "banais" do meu cotidiano. E isso é um resultado do borramento de fronteiras disciplinares e artísticas. Quando borramos fronteira entre as "ates" também borramos as fronteiras entre arte e vida. Me pergunto: quando que nossa "arte" se torna uma arte de viver? Como dizia meu mestre do teatro "pra que serve fazer Kendô (era kendô que ele fazia?? a conferir...) se eu topo meu pé na quina da mesa em casa?" Uma arte só serve se ela também for uma arte de viver.
Será que existe "estado alterado"? Se a experiência humana é um contínuo, onde está a alteração? Para definir alterado é preciso definir o inalterado. E isso não existe na vida. A cada momento os nossos estados internos e externos se alteram o tempo todo. O que muda é o grau de alteração. As vezes mais alterado e as vezes menos. Mais sutilmente alterado
Talvez a palavra certa não seja "estado alterado", mas estado "arteado", isto é, estado que pode ser enquadrado como "fazendo arte
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