Reflexões sobre "Performances do Tempo Espiralar" de Leda Maria Martins
Ainda estou no início da leitura, mas um insight que me veio:
Se pensarmos no tempo cronológico como uma linha horizontal temos uma sucessão de acontecimentos de igual ontologia entre eles, isto é, nenhum evento é menos real ou menos verdadeiro que o outro. Mas se imaginarmos que esta linha horizontal tem variações ontológicas - momentos mais ou menos densos, materializados que outros - teremos uma sucessão de acontecimentos cuja ontologia varia entre eles. Nesse sentido, um evento com maior densidade de existência no mundo - um momento mais memorável, por assim dizer - exerceria uma força gravitacional sobre os outros eventos de menos densidade puxando-os para si enquanto experiência. Essa dinâmica se reflete na nossa rememoração de eventos passados: se não fosse a palavra escrita ou, mais recentemente, o registro audiovisual, eventos de menor densidade seriam facilmente esquecidos perante a força gravitacional dos eventos de maior relevância.
Visualmente podemos ver o tempo microscópico como uma linha senoidal cujo eixo X equivaleria a sucessão cronológica dos acontecimentos enquanto que o eixo Y representaria a sua densidade ontológica, isto é, o quão memorável é aquele acontecimento.
Já macroscopicamente essa linha senoidal não seguiria estritamente o eixo X, mas sim o eixo Y, gerando espirais cujas curvas são determinadas pela interação das forças gravitacionais entre os eventos.
Me parece que é por este caminho que Leda Maria Martins vai revelar suas teorias temporais. A minha contribuição para esta discussão estaria em unir essa noção com a ideia de densidade proposta por Dubatti. Um corpo poético é tão ontologicamente verdadeiro quanto a seu grau de densidade. Proponho que meus experimentos sejam no sentido de gerar densidade de acontecimento cênico de forma que todo o laboratório se torne um evento memorável cuja força gravitacional seja intensa. Como fazer isso? Essa é a minha proposta. Acredito, pela minha formação com Rodas, que essa densidade seja alcançada por meio da entrega e visceralidade da performance, o Segundo aspecto da Técnica Muscular que trata da Sensibilidade.
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