Encontro do dia 14 de Janeiro de 2025 (TEAC Huguianas)
Hoje exercitamos nossas faculdades criativas utilizando o tema da liberdade.
Aquecimento:
O aquecimento se iniciou espontaneamente. Enquanto eu arrumava os equipamentos de registro, os participantes começaram a chegar e imediatamente se prepararam para a criação. Inicialmente de forma individual, cada um com o seu aquecimento, mas logo as relações se estabeleceram e pequenas cenas preliminares, danças, interações criativas em coletivo começaram espontaneamente a surgir. Praticamos por uns 30 minutos dessa forma.
Disposição para criar:
O fato do aquecimento se iniciar espontaneamente deixou claro que o entendimento da proposta está se fortalecendo entre os participantes. A postura de artista (independente e auto-pesquisador) está se sobrepondo à postura de estudante (dependente da orientação do professor). Essa mudança é muito bem vinda, pois significa que estamos saindo de uma lógica de alumnus para uma lógica de Techné.
Exercício de improvisação sobre a liberdade:
Em seguida passamos para uma improvisação individual sobre o tema da liberdade. A improvisação era livre, mas todos resolveram falar textos improvisados sobre a liberdade. Fiquei pensando se o exercício do logos praticado na última aula antes do recesso não teve o efeito de liberar o potencial expressivo da palavra no nosso grupo.
Surgiram solução muito interessantes para a proposta cênica onde cada um teve a oportunidade de se expressar como queria com algumas poucas intervenções minhas no sentido de integrar a voz com o movimento descrito abaixo:
A câmera lenta ou rápida como estímulo para a integração
Um fenômeno recorrente é a retração da expressividade do corpo como resultado do uso da palavra numa improvisação. Corpos que se expressam com bastante ênfase quando calados ficam bastante comedidos quando o uso da palavra é necessário para a cena. Esse fenômeno tem uma relação com a diferença que o Hugo fazia entre uma abordagem interpretativa ou performática: a interpretação (um fenômeno mais racionalizante) tende a acompanhar a palavra, pois esta, no nosso aprendizado tende a ser ensinada de uma forma racionalizante. A expressão corporal tem um lugar um pouco menos racional na nossa aprendizagem formal ainda que ele sofra diversas castrações expressivas durante a nossa formação. Tanto a palavra quanto a expressão corporal podem ser exercitados para se expressarem performaticamente, contudo, a dificuldade observada em se expressarem simultaneamente de forma performática aponta para uma falta de integração entre essas faculdades.
A câmera lenta parece ser bastante efetiva para reverter essa situação e proporcionar uma expressão mais integrada entre expressão corporal e expressão do logos, pois não apenas fornece ao corpo uma ação clara (manter a qualidade lenta do movimento de maneira integrada como é a nossa prática), como também possibilita que o performer tome consciência dos seus movimentos enquanto se expressa por meio da palavra. Ainda que essa desconexão possa permanecer no âmbito do sentido do texto (e isso pode ser trabalhado separadamente com outros exercícios) os maneirismos associados à forma cotidiana de se falar desaparecem ao serem substituídos pela lentidão e isso por si só já desconstrói a lógica interpretativa da performance.
Também a câmera rapidíssima pode ter um efeito similar como se pode observar ao final da aula seguinte (encontro do dia 16 de janeiro de 2025 TEAC Huguianas), mas o efeito dessa técnica se deve ao fato de que, ao se movimentar muito rapidamente, a mente não tem tempo de pensar logicamente e assim, desobriga a palavra da necessidade de "fazer sentido" naquela interpretação mais cotidiana de sentido.
Diferentes racionalidades
Quanto ao logos, o professor Marcus Mota apontou que essa relação com a racionalidade não significa que uma fala artística não seja racional somente porque não segue uma sequência inteligível de conceitos. Ao contrário, se trata de diferentes racionalidades que são acessadas por meio de uma expressão artística. Uma sequência "lógica" de palavras como "A liberdade é um poço sem fundo, quanto mais se procura, mas ela se revela inalcançável" tem um sentido racional de fácil entendimento, pois o encadeamento de palavras está de acordo com normas pré-estabelecidas pelo uso cotidiano da fala. Por outro lado a sequência "Poço fundo, profundo, no fundo, cair-se, infindo, até perder-se, longo caminho, atira-se, livre" pode não parecer "lógica", pois se trata de um poema, mas em verdade acessa uma outra lógica, uma lógica da sensibilidade que está ancorada numa outra racionalidade, pois ser racional não significa necessariamente ser silogístico.
Registros:
Parte 1:
https://youtu.be/HNXfyniYejs
Parte 2:
https://youtu.be/HCEXUzdn6Kg
Parte 3:
https://youtu.be/PbbOXxwxWKs
Parte 4:
https://youtu.be/9dCR0dWd_gU
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