Encontro do dia 12 de Dezembro de 2024 (TEAC Huguianas)
Aquecimento: Sob a influência da produção sonora do Marcus, iniciamos uma improvisação livre em duplas. Inicialmente era apenas eu e Marina, mas com o tempo alguns foram se juntando ao treino cada um na sua proposta. Dividimos a turma em 3 coletivos e cada um deles improvisou livremente utilizando movimento, som, palavra e o que mais quisesse. Era livre. Esse treino durou em torno de 32 minutos.
Apresentação da criação do aquecimento
Mantendo a energia de criação que criamos na última meia hora apresentamos cada um o que trabalhamos em coletivo. Os três grupos apresentam cada um de um vez.
Liminaridade e liberdade e criação.
A principal reflexão deste exercício foi a noção de que a sala de ensaio tem que ser um espaço sagrado de criação no qual o ato criativa é ininterrupto desde a chegada até a saída. Esta simples atitude perante a criação tem um poder maior do que qualquer coisa. Se chegamos no espaço/tempo com o objetivo de criar, inevitavelmente a criação acontece, mesmo que ela não se adeque às ideias pré-concebidas de criação. Em realidade o que se faz aqui é criar um espaço liminar onde um ato performático, mas por vezes também ritualístico é possível. Essa separação, essa liminaridade é essencial, pois é por meio deste espaço/tempo artificialmente imaginado como espaço sagrado de criação, como templo dionisíaco onde se pode deixar de ser quem se é e ser outros seres, é que é possível entregar-se por inteiro ao ato criativo.
A arte do ator consiste em não deixar o que somos impedir que sejamos qualquer outra coisa. Essa arte assim definida nada mais é do que a arte de ser livre. Livre das nossas próprias barreiras. O que não significa que não possamos voltar a ser o que éramos, mas certamente voltaremos transformados, despurificados daquilo que era apenas uma forma de ser. Profanados pela experiência nosso ser nunca será o mesmo e, por isso mesmo, poderá ser muito mais...
Exercício do logos
Uma dificuldade apontada por um participante foi a de falar um texto. Não porque ele tinha dificuldade com um texto específico, mas que o ato de falar o fazia sentir-se ridículo, como se o qualquer coisa que ele falasse não fosse legítimo ao suficiente. Assim, como resposta a essa dificuldade eu e Marcus desenvolvemos o exercício do logos: a proposta é falar uma palavra atrás da outra ininterruptamente de maneira que uma palavra não precise estar racionalmente ligada à outra, mas apenas temporalmente ligada a anterior e à próxima. Inicialmente começamos espontaneamente com listas de palavras que criavam seus sentidos na recepção do público, mas com um pouco de prática descobrimos que o ato de falar consiste exatamente em uma sequência de palavras e, quando esse entendimento acontece encontramos um logos, isto é, um outro que fala por nós e tudo faz sentido.
O Marcus lembra que isso é o mesmo que acontece na psicanálise em que o paciente é estimulado a falar e é questionado pelo analista com o intuito de fazê-lo falar e neste exercício ele acaba descobrindo um fluxo de pensamento que está no seu inconsciente.
Esse logos que fala por nós pode se expressar de diversas formas, mas sempre ele tem muito sentido (não necessariamente racional), pois ele vem de uma força interna de expressão de algo que sentimos. No caso deste exercício podemos expressar isso por meios artísticos da fala.
Um ponto interessante foi perceber a diferença entre um texto decorado e ainda cru falado por um aprendiz de ator e o texto falado de improviso pelo mesmo ator, mas acessando esse logos interno: fica claro que a fala improvisada tem muito mais emoção, fluidez, verdade e sentido afetivo do que um texto aprendido de fora para dentro.
Registros:
Parte 1:
https://youtu.be/kQcxX33t2Wc
Parte 2:
https://youtu.be/TRMrae6RJE4
Parte 3:
https://youtu.be/hGbIDaeCJC8
Parte 4:
https://youtu.be/qevyrhCI1cM
Parte 5:
https://youtu.be/naTKvOMzNZo
Parte 6:
https://youtu.be/-mCjk4Rji-E
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