Dicas para a escrita e estruturação da tese
Estes são alguns apontamentos retirados da disciplinas Metodologia de Pesquisa em Artes Cênicas ministrada pela professora Luciana Hartmann resultantes de um exercício coletivo de análise de teses.
Sobre autoria:
- Uma dica sobre autoria para a tese consiste em pautar a pesquisa na busca pelo conhecimento e não apenas por referências. Ou seja, não precisamos de ninguém "dando força" para os meu argumentos para justificar meu pensamento. As referências tem utilidade no sentido de conhecer o que já foi feito e pensado para não achar que estou inventando a roda. Usar o pensamento de outros autores não deve servir como se esses "cânones" estivessem tutelando o meu trabalho, mas sim como um simples diálogo "na mesa do bar", para usar uma expressão da Luciana.
- Uma pergunta importante de se fazer é como posso avançar o conhecimento na área ainda que pouquinho? Esse é o objetivo central de se fazer uma pesquisa. As outras coisas são tangenciais.
- Teses de teatro podem explodir mais, serem mais ousadas do que teses na literatura, por exemplo. A área permite certas licenças com o texto que outras áreas não permitem.
- Uma tese pra se diferenciar da dissertação tem que trazer alguma ousadia, isto é, alguma proposta de autoria, um pensamento original.
Sobre o título: dá pra saber do que se trata por meio do título?
Sobre o Resumo: Tem que conter o objetivo, metodologia, justificativa e conclusão (resultados da pesquisa). Existem modelos de resumo que podem ser seguidos.
Sobre as Palavras-Chave: No máximo 3 palavras chave e ter atenção para que sejam conceitos que realmente auxiliem na recuperação do texto em bases de dados. Termos muito específicos normalmente não ajudam.
Sobre a introdução: É bom começar pela contextualização: apresentar o pesquisador, a sua pesquisa pregressa, sua história na área e também sobre o contexto da pesquisa.
Sobre os agradecimentos: Agradecimentos não têm regras, mas é preciso agradecer aos órgãos de fomento da pesquisa como CAPES, CNPq e até mesmo a própria Universidade por meio do Departamento.
Sobre o número de páginas: 160 páginas para dissertação e 200 para tese são um mínimo para poder se desenvolver um pensamento. Não é que não seja possível fazer com menos, mas em geral é difícil completar um pensamento em menos do que 200 páginas.
Avisos: É bom evitar dizer que não tem trabalhos sobre um tema específico na área, pois o conhecimento é muito amplo e dificilmente haverá alguma área totalmente virgem a ser explorada
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E estas são dicas da aula do professor Gilberto Icle sobre escrita acadêmica:
O que é a escrita acadêmica? É o ato de argumentar a favor de alguma tese. (TADEU)
escrita como trabalho paulatino e na tarefa de ir e voltar sobre seus próprios textos. Escrever é aos poucos como qualquer outro processo criativo. Aos poucos se vai acumulando ideias, progredindo no pensamento e desenvolvendo argumentos.
Algumas etapas da escrita:
acumular argumentos, ideias e referências.
Antes de escrever eu tenho que fazer uma seleção de materiais (argumentos, referências, etc...) para ver o que vou escrever.
Elaborar um esboço dos argumentos e materiais organizados como se visualiza atualmente.
Escrever sempre pra poder ter uma constância.
Dicas para durante a escrita:
Não há separação entre pensamento e escrita.
Assegure-se de que você tem algo a dizer. Não basta ser uma compilação de ideias dos outros.
Não fantasie que deveria estar escrevendo outra coisa. O que se está escrevendo no momento é o mais importante.
Na falta de palavras, desenhe.
Não espere ter a forma perfeita na cabeça pra começar.
Não espere inspiração, pois escrita tem a ver com trabalho, constância.
Equilibrar a quantidade de leitura com escrita. Nem muito um e nem muito o outro.
Não acredite que você está escrevendo "o" texto, mas "um" texto. Ninguém vai conseguir escrever tudo o que se está pensando num só texto.
Estrutura tradicional do texto acadêmico:
Início (introdução), meio (desenvolvimento) e fim (conclusão).
Todas as partes do texto giram em torno do argumento.
Tudo tem que ser dito na introdução. A introdução tem que conter qual é o argumento, como esse argumento será desenvolvido e qual é a conclusão.
De maneira geral, todas as partes do texto segue essa estrutura pois deve haver início/meio/fim dentro da própria introdução ou desenvolvimento ou conclusão, assim como dentro de cada parágrafo.
Construção do argumento:
Elementos para a construção de um argumento: lógica, raciocínio, descrição de fatos e comportamentos, exemplos, estatísticas, citação de fotes reconhecidas, etc...
Instrumentos argumentativos alternativos: a literatura, as imagens, a narrativa, as mídias, a experiência pessoal do escritor, etc...
Construção de parágrafos:
O texto não é uma sequência de parágrafos, mas uma sequência de argumentos.
O tempo inteiro eu tenho que estar me perguntando: qual é o argumento que eu tô defendendo?
A frase inicial, geralmente, anuncia do que se trata o parágrafo.
Problemas de argumentação:
Generalizações: todos, muitos, nunca, sempre, etc... são palavras que dificilmente podem ser utilizados num texto acadêmico.
Prescrições: devemos, é preciso, seria obrigatório, etc... são palavras que dificilmente podem ser utilizados num texto acadêmico.
Simplificações: O argumento do texto acadêmico tende à complexidade, ao paradoxo, à contradição, pois quanto mais se estuda alguma coisa mais se percebe o tanto que é complexa.
Raciocínio sem conexão: quando a primeira parte do argumento não conversa com o a outra.
Argumentos circulares: quando dois argumentos se referem um ao outro para se justificarem.
Argumentos retóricos: frases que não levam ao desenvolvimento ou entendimento do texto.
Trabalhar com o já-dito:
Nós, como pesquisadores trabalhamos nos inserindo numa comunidade de pensadores que já estudaram e pensaram uma série de coisas.
Citação indireta é rara, pois normalmente só é usada quando é algo que o autor diz ao longo do seu texto inteiro e não tem uma frase específica que fala isso.
Nenhum texto resiste à erros se for lido em voz alta. Inclusive isso pode ser uma metodologia pra mim: escrever o texto como eu se eu estivesse falando ele numa peça.
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