Projeto de Doutorado

 

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O Artista Cênico Interdisciplinar

Investigação de uma abordagem integrada entre sonoridade e movimento para o desenvolvimento de artistas cênicos na interdisciplinaridade de campos artísticos


Linha de pesquisa pretendida:

Processos Composicionais para a Cena


Intrudução

A presente pesquisa pretende investigar possibilidades de integração das relações entre sonoridade e movimento sob a perspectiva do artista cênico como estratégia metodológica para o desenvolvimento das suas capacidades expressivas na interdisciplinaridade de campos artísticos.

O borramento de fronteiras disciplinares nas produções artísticas da contemporaneidade propiciou a geração de interdisciplinas que não prestam reverência a um único campo artístico, mas que transitam entre eles esquivando-se de definições taxonômicas estritas. Em dois artigos à Revista da Fundarte o Dr. Fernando Pinheiro Villar discute diferentes abordagens para o entendimento do hibridismo artístico na contemporaneidade e escolhe o termo interdisciplinaridade como denominador comum para simbolizar “o processo de troca ou intercâmbio entre diferentes disciplinas”(2017a, p.2). Ressalta também que o seu entendimento de interdisciplinaridade “não confere com o simples juntar de disciplinas diferentes ou, muito menos, com o improdutivo de realidades pseudointerdisciplinares, que não se tocam nem se trocam.” (2017b, p.3)

O ponto central desta pesquisa consiste no problema de como integrar os campos artísticos em que o artista cênico interdisciplinar transita de maneira que a sua expressão não se resuma a uma concomitância de diferentes habilidades, mas sim em um conjunto orgânico. Quando se trata de unificar disciplinas normalmente vistas de maneira compartimentada, é necessário pensar em princípios capazes de englobar o conjunto das possibilidades expressivas disponíveis nos campos artísticos diversos em questão. Além disso, será necessário investigar princípios que permeiem não apenas as possibilidades expressivas de cada campo artístico, mas também os desdobramentos que resultarem do seu entrelaçamento. No caso do artista cênico, pensar o seu ofício desde a sua formação como produção de sonoridades e movimentos pode ser um princípio norteador para o desenvolvimento de artistas interdisciplinares cujos campos artísticos sejam indissociavelmente integrados desde a sua raiz. Ou então cuja pluralidade de campos artísticos organicamente aprendidos como uma só expressão possam resultar, parafraseando Villar, num novo campo de ação ou num outro território de mutação artística (2017b, p.3). A presente pesquisa pretende investigar esse princípio norteador por meio de experimentos laboratoriais in loco realizados no formato de exercícios realizados na disciplina TEAC-Huguianas1.

Como evidenciado pela sua produção artística, o ator, diretor e professor honoris causa Hugo Renato Rodas Giusto procurou integrar esses campos artísticos de maneira a formar intérpretes que soubessem cantar, dançar e mais tarde também tocar instrumentos e realizar acrobacias. Essa proposta ficou mais evidente no final da sua carreira com os espetáculos da sua última companhia teatral, a Agrupação Teatral Amacaca (ATA), grupo brasiliense dirigido, liderado e cujos atores foram formados por ele. Por este motivo, as propostas pedagógicas de Hugo Rodas para o ator servirão como campo de pesquisa inicial para a investigação da relação entre sonoridade e movimento para a presente proposta.

De 2009 até 2022 Hugo Rodas ministrou a disciplina TEAC2 com o intuito de formar atores que se expressam em diferentes campos artísticos. O canto, a dança, o uso de instrumentos musicais e algumas artes circences consistiam de algumas das áreas abrangidas, contudo, a arte do ator permanecia como o principal aprendizado da sua proposta pedagógica. A experimentação obteve resultados mais diversos com a inclusão do professor Dr. Marcus Santos Mota na disciplina contribuindo com suas habilidades de musicista para o desenvolvimento sonoro das experimentações realizadas nas aulas. Após o falecimento de Rodas em 2022 os professores Marcus Mota e XXX3 deram continuidade à sua proposta pedagógica com a criação da disciplina TEAC-Huguianas com um enfoque renovado na exploração de sonoridades e movimento. Esse espaço tem sido palco de experimentações que integram campos artísticos diversos: a dança, o canto, a intepretação, a música, o tocar de instrumentos musicais, a manipulação de objetos e as artes circences se mesclam numa só proposta pedagógica. Por constituir um campo fértil para a presente pesquisa propõe-se utilizar esta disciplina como campo de experimentação para a formação de artistas cênicos cuja expressão integre esses diferentes campos artísticos: artistas cênicos interdisciplinares.

As atividades da pesquisa consistirão em dois braços:


  1. Análise qualitativa dos dados já coletados de ambas as disciplinas: TEAC ministrada por Hugo Rodas entre os anos de 2009 e 2022 e TEAC-Huguianas ministrada por Marcus Mota e XXX de 2022 até 2024. Os registros audiovisuais dessas aulas assim como textos reflexivos relativos às práticas realizadas estão disponíveis online em um conjunto de weblogs denominados “Huguianas”4. A análise terá como enfoque os exercícios que trabalham a sonoridade e o movimento e como eles auxiliam o intérprete não apenas a relacioná-los artística e sensivelmente, mas também a ampliar e complexificar as suas capacidades criativas.

  2. Aplicação de aulas laboratoriais com enfoque na integração de som e movimento para a formação de artistas cênicos interdisciplinares colocando as atividades da disciplina em observação e experimentação in loco. Esta etapa objetiva compreender a eficácia dos exercícios experimentados, extrair os mecanismos mais potentes para gerar um material didático, entrevistar os participantes e gerar dados laboratoriais para a elucidação das discussões relativas à integração de campos artísticos no ofício do artista cênico.


Em suma: investigar-se-ão as relações entre sonoridade e movimento no âmbito da formação de artistas cênicos interdisciplinares por meio da aplicação de exercícios focados na integração dos diversos campos artísticos. Pretende-se assim obter tanto uma metodologia didática quanto um arcabouço conceitual que possam apontar caminhos para a formação de artistas num espectro de ação que transite por diversos campos artísticos de maneira integrada.

Quem sabe aqui, no “entre”, no “inter”, este lugar que escapa de definições taxonômicas não se desdobrem outros territórios de mutação artística?

Justificativa e relação teórico-metodológica com a linha de pesquisa

Quando se trata da recepção da arte teatral, a sonoridade e o movimento são experienciados juntos, isto é, tanto a emissão sonora quanto a visual são experimentadas como um só conjunto artístico. Contudo, do ponto de vista dos fazedores da arte teatral, a produção sonora e de movimento são muitas vezes realizadas por indivíduos diferentes. Mesmo que o seu resultado final seja uma obra conjunta, a sua realização é fruto de uma parceria de especialistas: com exceção do texto falado pelos atores, músicos tendem a realizar a produção sonora enquanto atores ficam restritos a interpretação e, quando a obra necessita de habilidades mais virtuosas de movimento, dançarinos ou artistas circences costumam executar a parte do movimento.

Na ópera temos um exemplo de um tipo de obra que utiliza todas esses campos artísticos, contudo, em grande parte dos casos, vemos cantores exuberantes de um lado, dançarinos habilidosos de outro e instrumentistas escondidos no fosso do palco. Já no circo as acrobacias e a dança costumam consistir no foco principal e pouca atenção é dedicada para a dramaturgia e interpretação, enquanto a música geralmente é relegada a um plano de fundo para a cena.

Os exemplos acima – que obviamente não representam a totalidade das artes cênicas – apontam, contudo, para uma tendência à compartimentação da arte teatral, isto é, um hábito de se pensar esta arte como uma concomitância de disciplinas artísticas realizadas por indivíduos especializados em sua área específica de expressão. Raramente vemos artistas proficientes em todas essas disciplinas artísticas – canto, dança, interpretação, emissão textual, música e acrobacias – e mesmo quando alguns conseguem este feito, sua produção artística costuma permanecer compartimentada: canta-se em determinado contexto, dança-se em outro, interpreta-se em um terceiro e etc.

A questão da diversidade de campos artísticos onde se expressa o artista cênico passa, portanto, por um entendimento dessas diferentes formas de expressão como distintas umas das outras em detrimento de uma concepção holística “audiovisual”. Entendendo aqui o termo “audiovisual” não como é compreendido no âmbito do cinema e das mídias óticas, mas sim no sentido que diz respeito ao artista cênico, isto é, o da produção sonora e do movimento dos corpos vivos em cena. Isso nos leva à hipótese que alimenta esta pesquisa: a de que uma abordagem integrada da sonoridade e do movimento nas práticas de formação de artistas cênicos pode ser uma estratégia metodológica para o desenvolvimento expressivo interdisciplinar. Em outras palavras: se, ao formar um artista cênico, o seu treinamento for apresentado, não como uma multiplicidade de habilidades a serem aprendidas separadamente, mas sim como uma produção “audiovisual” podemos desenvolver a sua capacidade expressiva de maneira a integrar os campos artísticos que a compõem. Um treinamento realizado nesses moldes certamente terá desdobramentos no formato e na natureza dos processos composicionais para a cena tanto no desenrolar da formação do artista quanto nos resultados finais produzidos por ele.

O uso do termo “audiovisual” consiste numa tentativa preliminar de desvendar os princípios que permeiam diversos campos artísticos. Considerando os campos do canto, a dança, a interpretação, a música e o circo, vemos que em todos os casos temos uma emissão expressiva envolvendo seja o som, seja o movimento, seja ambos simultaneamente. Assim, todas essas artes poderiam ser pensadas “audiovisualmente” e esse pode ser um princípio integrador. Contudo, outras expressões sensoriais ficam de fora deste entendimento como o tato, o olfato, o paladar e outras percepções inefáveis que surgem do encontro artísticos presencial entre seres humanos. Assim, reconheço que este termo ainda é conceitualmente imperfeito para suprir de maneira integral os objetivos desta pesquisa uma vez que estamos tratando de territórios indefinidos, híbridos, mestiços que ainda não têm categorizações claramente delimitadas e justamente por isso necessitam de investigação. Desvendar a terminologia adequada para expressar essas manifestações interdisciplinares consiste num dos passos prementes desta pesquisa.

Desta investigação desdobram-se outros questionamentos: no que consiste a sonoridade para o artista cênico? E o movimento? Como o som interage, cria e é criado pelo movimento? Como o movimento interage, cria e é criado pelo som? Qual é o resultado dessa percepção integrada para o artista no momento da sua composição cênica? E quais mecanismos pedagógicos podem ser utilizados de maneira efetiva para desabrochar nele essa percepção holística e integrada das suas faculdades expressivas?

A produção artística contemporânea apresenta diversos indícios de mistura de campos artísticos e alguns estudos exploram os resultados estéticos dessa tendência como, por exemplo, o Teatro pós-dramático do crítico alemão Hans-Thies Lehmann (2007). Outros trabalhos, como a tese Artistic Interdisciplinarity and La Fura dels Baus (1979-1989) (VILLAR, 2001), defende essa mistura de disciplinas artísticas como modo de produção tomando como exemplo o grupo catalão La Fura dels Baus. A presente pesquisa pretende contribuir para o enriquecimento da discussão sobre interdisciplinaridade nas artes cênicas sob a perspectiva não da recepção, mas dos corpos que operam essa multiplicidade de disciplinas procurando estratégias que viabilizem essa expressão cênica.

A escolha do trabalho pedagógico de Hugo Rodas na disciplina TEAC como base de dados desta pesquisa se deve ao fato da sua abordagem formativa procurar preparar atores cujas performances transitem entre os campos artísticos da dança, música, interpretação e acrobacias. Essa proposta é evidenciada mais claramente pelos espetáculos “Ensaio Geral” (2011), “Punaré e Baraúna” (2014) e “Os Saltimbancos” (2017)5 realizados pela sua companhia de teatro, a Agrupação Teatral Amacaca, ela própria um resultado das suas aulas na UnB. Nos referidos espetáculos os atores cantam, dançam, interpretam, realizam acrobacias e também tocam instrumentos musicais. Isso é feito muitas vezes simultaneamente e integrando as diversas disciplinas artísticas resultando numa expressão estética orgânica em contraposição a uma simples concomitância de expressões artísticas. Esse resultado estético só foi possível por meio da abordagem pedagógica de Hugo Rodas no momento de formação desses atores entre os anos de 2009 à 2011 estimulando não apenas o aprendizado das diversas disciplinas, mas também como as utilizar de maneira conjunta. Devido a esta característica, seu exemplo parece um campo fértil para alimentar a discussão sobre sonoridade e movimento e as maneiras de integrá-los. Ainda assim, a sua proposta ainda tinha como elemento centralizador a interpretação teatral, isto é, a arte do ator se sobrepunha de uma forma ou de outra à do músico, do dançarino ou do artista circence. Como resultado, os atores da Agrupação Teatral Amacaca, ainda que se utilizem de outras disciplinas artísticas em sua expressão são primeiramente atores.

Na proposta interdisciplinar de Rodas resta, portanto, uma hierarquia entre os campos artísticos que sim se cruzam, mas permanecem numa relação vertical. Já na disciplina TEAC-Huguianas iniciada após o falecimento do professor Hugo Rodas, procura-se apresentar ao artista uma metodologia de integração horizontal dessas disciplinas artísticas para que haja uma interdisciplinaridade na qual as fronteiras entre os campos artísticos sejam ainda mais borrados. Nesta proposta talvez não seja mais tão adequado falar de um ator interdisciplinar, mas sim de um artista cênico interdisciplinar, ou talvez um performer interdisciplinar, ou outra palavra que possa dar conta do hibridismo artístico aqui proposto.

Com o intuito de explorar uma proposta mais horizontal para a interdisciplinaridade do artista cênico, sem contudo deixar de dar continuidade ao trabalho de Rodas, é que se propõe realizar os experimentos laboratoriais na disciplina TEAC-Huguianas. Esses experimentos in loco poderão ser melhor direcionados para resultados passíveis de observação que subsidiem a tese proposta por esta pesquisa. Desde 2022 busca-se nas aulas ministradas aplicar os princípios técnicos utilizados por Hugo Rodas para a experimentação com sonoridades e movimento e já se tem um considerável banco de dados de aulas e exercícios registrados neste período. A proposta desta parte da pesquisa será a aplicação mais sistemática de práticas de formação de artistas cênicos por meio de uma abordagem integrada da sonoridade e do movimento e observar os resultados no seu desenvolvimento expressivo. Esses experimentos serão registrados em formato audiovisual de maneira a ampliar a base de dados tanto para o desenvolvimento da presente pesquisa quanto para pesquisas futuras.

Objetivos

  • Desenvolver estratégias metodológicas para a formação de artistas cênicos interdisciplinares com base em uma abordagem integrada entre sonoridade e movimento.

  • Investigar os impactos de uma abordagem “audiovisual” integrada na formação de artistas cênicos que transitam entre diferentes campos artísticos.

  • Contribuir para a discussão sobre a operacionalidade da integração de diferentes campos artísticos no ofício do artista cênico.

  • Contribuir para a elaboração e desenvolvimento do arcabouço conceitual do pensamento sobre artes cênicas híbridas.

  • Gerar material pedagógico no formato de lista de exercícios e de como aplicá-los que trabalhem as relações de sonoridade e movimento de maneira integrada para o artista cênico com base nos experimentos realizados na pesquisa.

Metodologia

A presente pesquisa utilizará uma metodologia plural: parte qualitativa, parte experimental e parte investigação conceitual aplicada.

A parte qualitativa consiste na análise de dados já existentes ou a serem produzidos sobre o objeto de estudo. Dentre os dados já existentes estão os registros audiovisuais das disciplinas TEAC e TEAC-Huguianas disponiveis online em um conjunto de weblogs. Já os dados a serem produzidos consistem nos registros audiovisuais dos experimentos a serem realizados na parte experimental da pesquisa assim como as entrevistas semiestruturadas a serem aplicadas com os respectivos participantes.

A parte experimental consiste em ao menos dois semestres completos de experimentos laboratoriais realizados in loco na disciplina TEAC-Huguianas aplicando a hipótese de que uma abordagem audiovisual integrada na formação de artistas cênicos pode servir de estratégia metodológica para o desenvolvimento de artistas que transitam entre campos artísticos interdisciplinares.

A parte da investigação conceitual aplicada consiste na análise da bibliografia relativa ao tema da pesquisa com enfoque nos conceitos e abordagens que auxiliem na orientação e execução da parte experimental e qualitativa da pesquisa assim como apontem caminhos conceituais para a elucidação dos pontos nevrálgicos relativos à hipótese.


A metodologia de pesquisa se dará primeiramente a partir de um levantamento de dados tanto bibliográficos relativos ao tema da pesquisa quanto videográficos relativos às aulas ministradas por Hugo Rodas na disciplina TEAC e as aulas ministradas por Marcus Santos Mota e XXX na disciplina TEAC-Huguianas.

Seguir-se-á um período de análise qualitativa deste material procurando evidenciar os exercícios mais relevantes ao tema da pesquisa assim como os fundamentos conceituais e abordagens teóricas que servirão de alicerce para a discussão.

Em um terceiro momento propõe-se a aplicação prática de exercícios por pelo menos dois semestres na disciplina TEAC-Huguianas com objetivando coletar dados laboratoriais por meio de registros audiovisuais e entrevistas semiestruturadas.

A última etapa consiste na análise qualitativa geral dos dados obtidos nas etapas anteriores e a produção de um texto monográfico exibindo os resultados teóricos, metodológicos e processuais da pesquisa.

Como um subproduto da pesquisa pretende-se também elaborar uma lista dos exercícios mais eficazes e de como aplicá-los, um material didático que poderá servir para pesquisas futuras e práticas pedagógicas para a formação de artistas cênicos interdisciplinares. Todas as etapas serão assessoradas pela investigação conceitual aplicada a cada etapa da pesquisa.

Segue o detalhamento sequencial das etapas da pesquisa orientadas por um cronograma:

  1. Levantamento de dados e elaboração de cronograma de pesquisa

    1. Levantamento de dados:

      1. Levantamento dos registros audiovisuais da disciplina TEAC ministrada por Hugo Rodas.

      2. Levantamento dos registros audiovisuais da disciplina TEAC-Huguianas ministrada por Marcus Santos Mota e XXX.

      3. Estabelecer um cronograma de análise dos registros audiovisuais.

      4. Levantamento da bibliografia relevante ao tema da pesquisa.

    2. Elaboração do cronograma de pesquisa:

      1. Estabelecer um cronograma de análise dos registros audiovisuais.

      2. Estabelecer um cronograma de leitura e análise da bibliografia.

  1. Estabelecimento do recorte analítico:

    1. Assistir aos registros audiovisuais da disciplina TEAC procurando identificar os exercícios que trabalhem como foco principal as relações de sonoridade e movimento para o artista cênico. A compilação destes exercícios constituirá o recorte analítico da pesquisa.

    2. Realizar o mesmo processo para os registros da disciplina TEAC-Huguianas.

    3. Familiarização com a bibliografia levantada e análise da mesma identificando os pontos de contato com os exercícios levantados nos registros de ambas as disciplinas.

  1. Análise e aplicação experimental de exercícios:

    1. Analisar qualitativamente de forma detalhada o recorte de exercícios relativos à sonoridade e movimento de ambas as disciplinas. Foco da análise: quais são os fundamentos técnicos abordados, qual a sua dinâmica e qual foi sua efetividade nos participantes.

    2. Elaboração de um plano de exercícios baseados nos dados gerados no item anterior e aplicação do mesmo na disciplina TEAC-Huguianas com realização de entrevistas semiestruturadas com os participantes ao final de cada semestre.

    3. Todas as aulas experimentais serão registradas por meio audiovisual e disponibilizadas em um weblog que servirá de banco de dados para esta pesquisa. Cada vídeo de registro será acompanhada de um texto reflexivo produzido pelo pesquisador e pelos participantes que assim se dispuserem.6

    4. Continuidade na análise conceitual da bibliografia relacionando-a com os novos dados obtidos e levantamento de novos desdobramentos bibliográficos segundo as necessidades teóricas do andamento da pesquisa.

    5. A Etapa 3 será realizada por pelo menos 2 semestres conforme as limitações de tempo e espaço da pesquisa.

  1. Análise final e avaliação dos resultados obtidos:

    1. Análise qualitativa dos dados gerados pela aplicação dos exercícios experimentais na disciplina TEAC-Huguianas.

    2. Produzir material didático no formato de uma lista dos exercícios mais efetivos e os modos de aplicá-los.

    3. Relacionar esses dados com os resultados de etapas anteriores

    4. Relacionar esses dados com a análise bibliográfica.

  1. Produção de tese:

    1. Produção de texto monográfico contendo um relato das etapas metodológicas da pesquisa, as discussões teóricas relativas à sonoridade e movimento do ponto de vista do artista cênico interdisciplinar, as reflexões relativas à hipótese e as considerações e teses finais resultantes da pesquisa.

Cronograma


Semestre 1

Semestre 2

Semestre 3

Semestre 4

Semestre 5

Semestre 6

Semestre7

Semestre 8

Etapa 1









Etapa 2









Etapa 3









Etapa 4









Etapa 5










Revisão de Literatura


Com relação ao trabalho do diretor e professor Hugo Rodas há diversas contribuições acadêmicas que refletem sobre o tema. A dissertação de Claudia Moreira Souza intitulado O Garoto de Juan Lacaze (2007) faz uma retrospectiva biográfica de Rodas adentrando no seu desenvolvimento criativo como um ator e musicista (cantor e pianista) já apontando para uma formação em diversos campos artísticos.

Já a dissertação de Angélica Beatriz Souza e Silva intitulada Abordagens de Processos Criativos: o teatro de Hugo Rodas (2014) faz uma análise de um processo criativo evidenciando a sua multiplicidade de percursos criativos e aprofundando na discussão sobre a criatividade e sua característica múltipla e rizomática.

Também diversos artigos publicados principalmente pelo professor Dr. Marcus Santos Mota refletem sobre os processos criativos de Hugo Rodas sob diferentes perspectivas, desde a sonoridade e o espaço até a dramaturgia.7

Por fim, a dissertação de Mestrado de XXX denominada O QUE APRENDI COM MEU MESTRE: Mapeamento dos Princípios Técnicos Utilizados por Hugo Rodas (2022) faz um levantamento analítico dos princípios técnicos utilizados por Hugo Rodas em suas aulas evidenciando o que o autor chama de Técnica Muscular: uma série de dispositivos e mecanismos que direcionam o ator-dançarino para uma performance integrada do movimento com a expressão afetiva. Segundo o autor, a integração desses elementos na proposta de Rodas se dá por meio do domínio de Tônicas Musculares, combinações de contrações e relaxamentos musculares que podem tanto expressar estados afetivos internos quanto ajudar a gerar internamente esses estados segundo as necessidades da cena. Um tal conceito pode servir de princípio unificador para a abordagem expressiva interdisciplinar proposta pela presente pesquisa.

Outra perspectiva de integração entre sonoridade e movimento se encontra no artigo Do Movimento ao Som, Do Som ao Movimento: relações bioculturais entre dança e música publicado pela professora PhD Andréia Nhur (2020) na Revista Brasileira de Estudos da Presença. Ao analisar o trabalho artístico da companhia paulista Pro-Posição Dança – grupo que integra dança com instrumentos musicais – ela reflete que “do ponto de vista do corpo que performa, não estamos falando de uma conexão randômica entre som e movimento, senão de um desenho constituído por caminhos conjuntos na tarefa de mover e de tocar/cantar.” (NHUR, 2020, p.7) Esta noção corrobora com a hipótese desta pesquisa, pois reforça uma ideia de expressão cênica que integra diferentes campos artísticos de maneira conjunta, uma tendência que, segundo a autora está cada vez mais presente no século XXI. Ainda nas palavras dela:


(...) cada vez mais experiências cênicas têm utilizado recursos da música, do teatro, da dança e da performance, deflagrando - para além da justaposição de efeitos estéticos ocorrendo paralela ou alternadamente - a necessidade de se pensar a mistura de technés em corpos que transitam por diversos domínios artísticos” (NHUR, 2020, p.2)


A presente pesquisa vem tentar suprir parte desta necessidade ao investigar as repercussões de uma abordagem audiovisual integrada para a formação de artistas cênicos que transitam entre esses domínios artísticos.

Esse repensar das disciplinas artísticas tradicionais para acomodar outras formas de expressão menos compartimentadas não ocorre apenas nas artes cênicas, mas é uma discussão pungente em outras áreas. Com relação ao som, por exemplo, a discussão passa pelo borramento de fronteiras entre o som e o ruído, redefinindo o que seria “música” para além de sistemas tonais, modais e seriais. José Miguel Wisnik, no seu livro O som e o sentido: uma outra história das músicas (2006), aponta como esse processo se dá por meio do jogo entre som, silêncio e ruído ampliando as possibilidades sonoras do musicista.

A integração entre disciplinas como a música e a atuação necessitam de percepções tanto musicais quanto de movimento que partem de princípios não compartimentados para todas as disciplinas artísticas envolvidas, isto é, se se pretende que um ator seja, ao mesmo tempo, um instrumentista é necessário pensar a sua produção sonora também como uma ação física ou então como uma “dança dos dedos”. Da mesma forma, a performance do “músico-ator” também necessitaria ser pensada como uma ação física preenchida de estados afetivos, abordagem que o aproximaria da arte do ator.

Neste sentido, trabalhos como o de Marc Leman em What Is Embodied Music Cognition (2018) podem ser úteis ao evidenciar como a cognição musical é determinada em grande parte pela sua interação com o corpo. Essa percepção pode apontar um caminho para a integração entre o som e o movimento sob a perspectiva de um dançarino e ator que também toca instrumentos musicais.

Estes são apenas alguns dos desdobramentos possíveis para o embasamento teórico da presente pesquisa e o seu desenvolvimento dependerá em grande parte dos resultados das análises e experimentos propostos na sua metodologia.



Referências Bibliográficas

XXX. O QUE APRENDI COM MEU MESTRE: Mapeamento dos Princípios Técnicos para o Ator Utilizados por Hugo Rodas. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós Graduação em Artes Cênicas, Universidade de Brasília – UnB. Brasília, 2022.


LEMAN, Marc et al. What Is Embodied Music Cognition? In: BADER, Rolf (Ed.). Springer Handbook of Systematic Musicology. Berlin; Heidelberg: Springer Handbooks, 2018. P. 747-760.


LEHMANN, Hans-Thies. Teatro pós-dramático. Tradução de Pedro Süssekind. São Paulo: Cosac & Naify, 2007.


MOTA, Marcus. A discussão da ideia de Espaço em Kant e seu contraponto na teatralidade, a partir de comentários de uma montagem de Hugo Rodas. In: MEDEIROS, Maria Beatriz e MONTEIRO, Mariana F.M. (orgs.) Espaço e Performances. Brasília: Editora da Pós-Graduação em Artes da Universidade de Brasília, 2007.


____________. Dramaturgia, colaboração e aprendizagem: um encontro dom Hugo Rodas. In: VILLAR, Fernando Pinheiro e CARVALHO, Eliezer Faleiros de (orgs.) Histórias do teatro brasiliênse. Brasília: Artes Cênicas – IdA/UnB, p.198-217, 2004.


____________. Teatro, Música e Estranhamento: a dramaturgia e recepção de David.In: Simpósio da Internacional Brecht Society, Porto Alegre: UFRGS, Anais. Vol. 1, 2013.


NHUR, Andréia. Do Movimento ao Som, Do Som ao Movimento: relações bioculturais entre dança e música. Rev. Bras. Estud. Presença, Porto Alegre, v. 10, n. 4, e100069, 2020. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbep/a/WQMbk7yV8JcWrdYLrZKkTjK/?format=pdf


SILVA, Angélica Beatriz Souza e. Abordagens de Processos Criativos: o teatro de Hugo Rodas. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação em Artes, Universidade de Brasília – UnB. Brasília, 2014.


SOUZA, Claudia Moreira. O Garoto de Juan Lacaze, invenções no teatro de Hugo Rodas. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação em Artes/VIS/IdA, Universidade de Brasília – UnB. Brasília, 2007.


VILLAR, Fernando Pinheiro. Três apontamentos e outra defesa de interdisciplinaridades ou hibridismos artísticos como modos de produção e significado no teatro contemporâneo. Rev. Da FUNDARTE, Montenegro, p. 12-30, ano 17, n°34, agosto/dezembro. 2017a. Disponivel em:

https://seer.fundarte.rs.gov.br/index.php/RevistadaFundarte/index


____________.Interdisciplinaridade artísticas. Revista da Fundarte, Montenegro, ano 17, p. 188-193. Jan/Jul. 2017b. Disponível em:

https://seer.fundarte.rs.gov.br/index.php/RevistadaFundarte/index


____________. Artistic Interdisciplinarity and La Fura dels Baus. Tese. Queen Mary College, University of London, 2001.


WISNIK, José Miguel. O Som e o sentido: uma outra história das músicas. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.


Referências de espetáculos

AGRUPAÇÃO TEATRAL AMACACA (ATA) Ensaio Geral. 2011. Direção: Hugo Rodas.

https://www.youtube.com/watch?v=yQOEWK2c34c

AGRUPAÇÃO TEATRAL AMACACA (ATA). Punaré e Baraúna. 2014.Direção: Hugo Rodas.

https://www.youtube.com/watch?v=tsg83M_67Do

AGRUPAÇÃO TEATRAL AMACACA (ATA). Os Saltimbancos. 2017. Direção: Hugo Rodas.

https://www.youtube.com/watch?v=iyU4Ibm9t7Y


Referências digitais

Aulas do Hugo (TEAC) e de Marcus Mota e XXX (TEAC-Huguianas):

1A disciplina TEAC-Huguianas (Técnicas Experimentais em Artes Cênicas - Huguianas) é uma disciplina optativa do Departamento de Artes Cênicas (CEN) da Universidade de Brasília (UnB) cuja finalidade é a exploração de sonoridades e movimento a partir dos princípios técnicos utilizados pelo ator, diretor e professor honoris causa Hugo Rodas.

2A disciplina TEAC-Huguianas (Técnicas Experimentais em Artes Cênicas) foi uma disciplina optativa do Departamento de Artes Cênicas (CEN) da Universidade de Brasília (UnB) ministrada por Hugo Rodas no período de 2009 até 2022.

3“XXX” representará no presente texto o nome do autor do projeto que, por razão das regras de seleção do edital a que este projeto se inscreve, deve permanecer sob anonimato.

4Vide referências.

5Três espetáculos da Agrupação Teatral Amacaca cuja direção é de Hugo Rodas. Para links com os espetáculos na íntegra vide referências.

6 Este modus operandi já está em vigor na disciplina TEAC-Huguianas desde o seu início em 2022 e já possui um considerável banco de dados.

7São eles: A discussão da ideia de Espaço em Kant e seu contraponto na teatralidade, a partir de comentários de uma montagem de Hugo Rodas (MOTA, 2007); Dramaturgia, colaboração e aprendizagem: um encontro com Hugo Rodas (MOTA, 2004); Teatro, Música e Estranhamento: a dramaturgia e recepção de David (MOTA, 2013).


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